Arquitetura hostil nos Jogos Olímpicos: 5 revelações inesperadas.

Uma Visão Sombria dos Jogos Olímpicos: Como a Arquitetura Hostil está Afetando os Moradores de Rua

Nos bastidores dos Jogos Olímpicos, uma realidade sombria se desenrola nas ruas das cidades-sede. Enquanto atletas e torcedores se reúnem para celebrar o espírito esportivo, uma parcela vulnerável da população é sistematicamente expulsa e removida dos espaços públicos – uma prática conhecida como “arquitetura hostil”.

Nos dias que antecederam a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, em julho, uma cena marcante se desenrolou debaixo da Ponte de Stains, na periferia norte da cidade. Lá, onde antes havia um acampamento de moradores de rua, incluindo muitos migrantes, surgiram dezenas de blocos de concreto maciços, impedindo qualquer possibilidade de retorno daquelas pessoas.

Essa é apenas uma das muitas manifestações da “arquitetura hostil”, um termo usado para descrever as mudanças visíveis implementadas pelas cidades e empresas a fim de dificultar a permanência de pessoas em situação de rua em determinados espaços. Ativistas denunciam que essa prática se intensifica significativamente durante a realização dos Jogos Olímpicos, quando as autoridades buscam “higienizar” os locais para receber jornalistas, atletas e turistas.

O Padrão Recorrente nas Sedes Olímpicas

Arquitetura hostil nos Jogos Olímpicos: 5 revelações inesperadas.
Source: wired.com

Segundo o professor Jules Boykoff, especialista em impactos dos Jogos Olímpicos em comunidades marginalizadas, essa não é a primeira vez que a “arquitetura hostil” se manifesta em cidades-sede de eventos esportivos. Ele cita exemplos de Londres, em 2012, e do Rio de Janeiro, em 2016, onde também houve deslocamento e remoção de populações vulneráveis.

“Isso faz parte do deslocamento e expulsão de populações marginalizadas [que ocorre] na cidade-sede para ‘higienizar’ o espaço, para que quando jornalistas, escritores e turistas olímpicos chegarem, eles não sejam confrontados com a realidade de lidar com pessoas pobres”, explica Boykoff.

Após serem retirados de seus locais de moradia, muitos desses indivíduos são enviados a outras cidades, recebendo apenas um breve apoio temporário. Ativistas denunciam que, posteriormente, muitos acabam voltando para as ruas, sem acesso a soluções de longo prazo para sua situação de vulnerabilidade.

Uma Tendência Preocupante nos Estados Unidos

A situação se agrava ainda mais nos Estados Unidos, onde a “arquitetura hostil” assume contornos ainda mais distópicos. Cidades como San Francisco há muito tempo utilizam obstáculos, como bolardos e floreiras, para impedir que pessoas em situação de rua durmam em determinados locais.

Recentemente, uma jornalista do Washington Post viralizou ao relatar sua experiência em uma unidade da rede de farmácias CVS, em Washington D.C., onde uma câmera de vigilância a alertou, por meio de um alto-falante, para não ficar ali parada. Essa tecnologia de monitoramento, desenvolvida pela empresa LiveView Technologies, também está sendo implementada em outras cidades estadunidenses, incluindo Los Angeles, que sediará os Jogos Olímpicos de 2028.

“Se você quiser entender o que vai acontecer em Los Angeles daqui a quatro anos, as pessoas de LA fariam bem em olhar para as maquinações que estão acontecendo aqui em Paris”, alerta o professor Boykoff.

Buscando Soluções de Longo Prazo

Ativistas e especialistas enfatizam que a solução para o problema da moradia de rua não está em simplesmente deslocar ou remover essas pessoas de determinados locais, mas sim em investir em políticas públicas que forneçam acomodação e apoio de longo prazo.

María José Aldanas, especialista da FEANTSA, uma federação europeia de organizações dedicadas à questão da moradia, afirma: “Se você quiser acabar com a falta de moradia, você realmente precisa investir em políticas que coloquem as pessoas em acomodação, e não apenas as desloquem de certos lugares”.

À medida que as cidades-sede olímpicas se preparam para receber os eventos, é crucial que as autoridades e a sociedade civil se mobilizem para encontrar soluções duradouras para a crise da moradia de rua, em vez de simplesmente adotar medidas cosméticas que apenas deslocam o problema.

Conclusão: Um Chamado por Compaixão e Dignidade

Os Jogos Olímpicos, um evento que celebra o espírito esportivo e a união entre os povos, não deve ser manchado pela remoção forçada e desumana de pessoas em situação de vulnerabilidade. À medida que as cidades se preparam para receber atletas e torcedores, é fundamental que elas também se empenhem em encontrar soluções efetivas e compassivas para aqueles que lutam diariamente pela sobrevivência nas ruas.

Somente com uma abordagem verdadeiramente inclusiva e que priorize a dignidade humana, os Jogos Olímpicos poderão cumprir seu objetivo de inspirar e unir a humanidade, em vez de marginalizar ainda mais os mais vulneráveis.

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