O fim da onda de calor recorde não significa o fim da mudança climática
Após uma sequência impressionante de 13 meses com recordes de calor global, a tendência finalmente chegou ao fim. Dados do serviço de Monitoramento da Mudança Climática da União Europeia mostram que as temperaturas médias globais do ar e da superfície dos oceanos em julho de 2024 ficaram ligeiramente abaixo dos níveis do julho anterior. Embora uma pequena queda, isso não é o suficiente para diminuir o risco iminente das mudanças climáticas.
O calor extremo observado nos últimos 13 meses foi resultado de uma combinação de fatores, com o aquecimento global causado pela ação humana sendo o principal deles. Apesar dessa breve interrupção, a tendência de longo prazo é clara: as temperaturas continuarão subindo até que a humanidade consiga estabilizar o clima, mantendo os combustíveis fósseis onde eles devem ficar – enterrados.
O que causou essa onda de calor recorde?
Para entender o que levou a essa sequência impressionante de recordes de temperatura, é preciso olhar para alguns fatores-chave. O primeiro e mais importante deles é o aquecimento global causado pelas atividades humanas, especialmente a queima de carvão, petróleo e gás. Essas emissões de gases do efeito estufa vêm aumentando a quantidade de calor presente na atmosfera e nos oceanos da Terra desde a era pré-industrial.
Além disso, o fenômeno climático conhecido como El Niño também desempenhou um papel crucial nesse período. O El Niño é uma reorganização das águas do Oceano Pacífico que acaba afetando os padrões climáticos em escala global, geralmente elevando as temperaturas médias em todo o planeta. Esse ciclo El Niño-La Niña é irregular, mas tende a se repetir a cada 3 a 7 anos.
Outros fatores, como uma leve elevação na atividade solar e o aumento da concentração de metano na atmosfera, também contribuíram para essa onda de calor recorde, embora em uma escala menor.
O impacto nas temperaturas globais
Julho de 2024 ficou 1,48 graus Celsius acima da média típica do período pré-industrial, sendo que cerca de 1,3 grau Celsius dessa diferença pode ser atribuída ao aquecimento global ao longo das últimas décadas. Esse é o novo patamar de normalidade que deve persistir pelos próximos anos, até que o próximo ciclo El Niño empurre as temperaturas ainda mais para cima.
O aumento gradual das temperaturas globais médias age como uma espécie de “catraca” climática. Cada evento El Niño forte estabelece um novo nível mínimo mais elevado, que se torna a nova referência para os períodos neutros ou de La Niña. Assim, mesmo que as temperaturas recuem um pouco após o fim do recente El Niño, elas não devem voltar aos níveis pré-2023/2024.
O impacto nas comunidades e ecossistemas
O verão de 2023 foi devastador para os recifes de coral do Caribe e de outras regiões do mundo. O branqueamento em massa atingiu duramente a Grande Barreira de Coral, na Austrália. Embora os eventos El Niño sejam os principais impulsionadores desses episódios catastróficos para os ecossistemas marinhos, é a tendência subjacente de aquecimento climático que representa a ameaça de longo prazo.
As comunidades humanas também enfrentam riscos cada vez maiores. Ondas de calor, secas, inundações e outros eventos climáticos extremos tendem a se tornar mais frequentes e intensos à medida que o planeta continua se aquecendo. Isso exige uma resposta urgente e decidida para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e limitar o aquecimento global.
O futuro: Rumo a um mundo mais sustentável
Apesar do fim temporário dessa sequência de recordes de calor, a tendência de longo prazo é clara: as temperaturas globais continuarão subindo até que sejamos capazes de estabilizar o clima, mantendo os combustíveis fósseis enterrados. O Acordo de Paris estabeleceu o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C, mas esse alvo já está ficando cada vez mais distante.
A boa notícia é que a transição para fontes de energia renováveis já está em andamento em alguns setores, como a geração de eletricidade. Mas esse progresso ainda é insuficiente, e muito mais precisa ser feito para acelerar a descarbonização da economia global. Novas alternativas e investimentos em infraestrutura limpa são urgentemente necessários.
Embora os recordes de temperatura provavelmente voltem a ser notícia no futuro, isso não precisa ser inevitável. Existem muitas opções para intensificar a transição para uma economia livre de carbono, e é cada vez mais crucial que elas sejam perseguidas de forma decisiva. O fim dessa onda de calor recorde é apenas uma pequena pausa, e a urgência da ação climática continua tão alta quanto nunca.
Principais Conclusões
- A sequência recente de recordes de calor global chegou ao fim, mas a tendência de longo prazo de aquecimento climático continua. As temperaturas médias devem flutuar em torno de um novo patamar mais elevado até que o próximo ciclo El Niño empurre os níveis ainda mais para cima.
- O aquecimento global causado pelas atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis, é o principal fator por trás dessa onda de calor histórica. Outros elementos, como o fenômeno climático El Niño e algumas mudanças na atividade solar e nas emissões de metano, também desempenharam papéis importantes.
- O impacto desse calor extremo tem sido devastador para ecossistemas como os recifes de coral, e também representa ameaças crescentes para as comunidades humanas. É crucial acelerar a transição para uma economia livre de carbono, a fim de limitar os danos causados pelas mudanças climáticas.