Como mitos sexistas representam um perigo para a saúde
O mundo da saúde é repleto de ideias preconcebidas sobre as diferenças biológicas entre homens e mulheres. Infelizmente, muitas dessas crenças são mitos sexistas que podem colocar a vida das pessoas em risco. Esse é um problema sério que precisa ser amplamente discutido e combatido.
Quando a diferença de sexo não é a causa
Um bom exemplo disso é o caso do medicamento para insônia chamado zolpidem. Em 2013, a agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA) recomendou que as mulheres recebessem uma dose menor desse remédio do que os homens. A justificativa era de que o medicamento afetava as mulheres por um período mais longo, o que poderia se tornar um problema de segurança.
No entanto, em 2019, uma pesquisa realizada na Universidade de Tufts concluiu que essa diferença de efeito do medicamento não tinha nada a ver com o sexo. Na verdade, o que determinava a taxa na qual a pessoa eliminava a droga do sistema era o tamanho do corpo. O estudo concluiu que a redução da dose prescrita para as mulheres poderia, na verdade, levar a uma subdosagem e a uma falha no tratamento efetivo da insônia.
Explicações biológicas simplistas
A autora Angela Saini, especialista em questões de gênero e saúde, argumenta que muitos dos principais gaps de resultados de saúde entre homens e mulheres não têm nada a ver com o sexo biológico. “Pode ser muito tentador para os cientistas olharem para uma lacuna e quererem encontrar uma explicação biológica simples para ela, mas quando se trata de gênero e saúde, essas explicações simples muitas vezes não existem”, afirma Saini.
Diferenças de gênero, não de sexo
Claro que existem diferenças de sexo em aspectos da saúde, como saúde reprodutiva e fisiologia. Porém, o que a pesquisa sugere é que, na maioria dos casos, a diferença relacionada à saúde entre homens e mulheres – desde os sintomas das doenças até a eficácia dos medicamentos – é realmente bastante marginal. “As diferenças que existem se devem ao gênero”, diz Saini. “Diferenças na forma como as pessoas são tratadas e pensadas e nas suposições que fazemos sobre elas.”
O mito dos sintomas “atípicos” de infarto nas mulheres
Um bom exemplo disso é o mito comum de que as mulheres apresentam sintomas atípicos de infarto, diferentes dos homens. Esse mito prevalente foi desmentido por um estudo de 2019, financiado pela British Heart Foundation, na Universidade de Edimburgo. A pesquisa, que envolveu quase 2.000 pacientes, mostrou que, na verdade, 93% de ambos os sexos relataram dor no peito – o sintoma mais comum – enquanto uma porcentagem semelhante de homens e mulheres (quase 50%) também sentiram dor irradiando para o braço esquerdo.
“O problema do subdiagnóstico de mulheres é porque os profissionais de saúde e até as próprias mulheres que estão tendo um ataque cardíaco acreditam que os ataques cardíacos são algo que acontece principalmente com os homens”, explica Saini. Estimativas indicam que as diferenças nos cuidados com as mulheres levaram a aproximadamente 8.200 mortes evitáveis por ataques cardíacos na Inglaterra e no País de Gales desde 2014.
Quando o gênero afeta os resultados de saúde
Outro exemplo que ilustra de forma contundente como o gênero pode afetar os resultados de saúde veio de um estudo canadense de 2016 sobre pacientes que haviam sido hospitalizados com síndrome coronariana aguda. A pesquisa mostrou que os pacientes que experimentaram maiores taxas de recorrência foram aqueles que desempenhavam papéis de gênero tipicamente associados a mulheres, como fazer mais trabalhos domésticos e não ser o principal provedor da família, independentemente de serem homens ou mulheres.
“Isso aconteceu porque as pessoas que desempenhavam um papel social feminino tinham mais probabilidade de estar ansiosas”, explica Saini.
A importância de ouvir as pacientes
Se essas disparidades são causadas pela forma como os pacientes são percebidos e tratados, a solução, para Saini, é clara: “Precisamos ter cuidado para diagnosticar o problema onde ele está, não onde imaginamos que está”. Ela destaca o trabalho bem-sucedido de Jennie Joseph, uma parteira britânica que, em 2009, fundou a Commonsense Childbirth School of Midwifery em Orlando, Flórida, para apoiar mulheres sem acesso a cuidados de saúde materna.
Pesquisas mostraram que as mães negras, tanto nos EUA quanto no Reino Unido, têm três vezes mais chances de morrer do que as mulheres brancas. “Joseph reduziu as taxas de mortalidade materna entre as mulheres de minorias simplesmente melhorando a qualidade dos cuidados, ouvindo suas preocupações e respondendo quando elas dizem que estão com dor”, diz Saini. “Não precisamos de tecnologia para resolver esse problema. Simplesmente não podemos permitir que nossos preconceitos e preconceitos atrapalhem.”
Conclusão
Esse artigo destaca um problema sério e urgente no sistema de saúde: os mitos sexistas que podem colocar a vida das pessoas em risco. Ao ignorar as diferenças de gênero e não ouvir atentamente as pacientes, os profissionais de saúde podem cometer erros graves que custam vidas. É essencial combater esses preconceitos e garantir que todos recebam cuidados de saúde de alta qualidade, independentemente de seu sexo ou identidade de gênero.
Principais Conclusões
- Muitas diferenças de saúde entre homens e mulheres não têm origem biológica, mas sim são resultado de preconceitos e suposições de gênero.
- Mitos sexistas, como a crença de que as mulheres apresentam sintomas “atípicos” de infarto, podem levar a erros de diagnóstico e tratamento, com consequências graves.
- Para resolver essas disparidades, é essencial que os profissionais de saúde ouçam atentamente as preocupações dos pacientes e não se deixem guiar por ideias preconcebidas.